A estória de Pandora,
"aquela que possui todos os dons"
A razão da presença da Esperança com os males deve ser procurada através de uma tradução mais acurada do texto grego. A palavra em grego é ἐλπίς/elpís, que é definida como a espera de alguma coisa; pode ser traduzida como esperança, mas essa tradução seguramente é arbitrária. Uma tradução melhor poderia ser "antecipação", ou até o temor irracional. Graças ao fechamento por Pandora da jarra no momento certo, os homens sofreriam somente dos males, mas não o conhecimento antecipado deles, o que provavelmente seria pior.
Eles não viveriam o temor perpétuo dos males por vir, tornando suas vidas possíveis. Prometeu se felicita assim de ter livrado os homens da obsessão com a própria morte. Uma outra interpretação ainda sugere que este último mal é o de conhecer a hora de sua própria morte e a depressão que se seguiria por faltar a esperança.
Zeus enviou Pandora como
presente a Epimeteu cujo nome significa ("aquele que pensa depois" ou
"o que reflete tardiamente"). Epimeteu havia sido avisado por
Prometeu para não aceitar nenhum presente dos deuses, mas, encantado com
Pandora, desconsidera as recomendações do irmão. Pandora chega trazendo em suas
mãos um grande vaso (pithos = jarro) fechado que trouxera do Olimpo como
presente de casamento ao marido. Pandora abre-o diante dele e de dentro, como
nuvem negra, escapam todas as maldições e pragas que assolam todo o planeta.
Desgraças que até hoje atormentam a humanidade. Pandora ainda tenta fechar a
ânfora divina, mas era tarde demais: ela estava vazia, com a exceção da
"esperança", que permaneceu presa junto à borda da caixa. A única
forma do homem para não sucumbir às dores e aos sofrimentos da vida. Assim,
essa narração mítica explica a origem do males, trazidos com a perspicácia e
astúcia “daquela que possui todos os dons”.
Pandora por não ter nascido
como uma deusa é conhecida como uma semideusa. Dizem que foi por ambição que
ela abriu a caixa. Ela queria se tornar uma deusa do Olimpo e esposa de Zeus.
Por isso, Zeus para castiga-la tirou-lhe a vida. Mas, Hades com interesse nas
ambições de Pandora, procurou as parcas (dominadoras do tempo) e lhes pediu
para que voltassem o tempo. Sem permissão de Zeus elas nada puderam fazer. Hades
convenceu o irmão a ressuscitar Pandora. Devido aos argumentos do irmão, Zeus a
ressuscitou dando-lhe a divindade que ela sempre desejara. Foi assim que
Pandora tornou-se a deusa da ressurreição. Para um espírito ressuscitar Pandora
entrega-lhe uma tarefa, se o espírito cumprir a devida tarefa, ele é
ressuscitado. Pandora com ódio de Zeus por ele ter a tornado uma deusa sem
importância, entrega aos espíritos somente tarefas impossíveis. Assim nenhum
espírito até hoje conseguiu e nem conseguirá ressuscitar.
Deste mito ficou a
expressão caixa de Pandora, que se usa em sentido figurado quando se quer dizer
que alguma coisa, sob uma aparente inocência ou beleza, é na verdade uma fonte
de calamidades. Abrir a Caixa de Pandora significa que uma ação pequena e
bem-intencionada pode liberar uma avalanche de repercussões negativas. Há ainda
um detalhe intrigante que poderíamos levantar do porque a esperança estava
guardada na caixa entre todos os males. Dependendo da perspectiva em que
olharmos os pares de opostos, a esperança pode também ter uma conotação
negativa por ela pode minar as nossas ações nos fazendo aceitar coisas que
deveríamos confrontar.
No mito de Prometeu e de
Pandora, a mulher aparece como um "presente" dado aos homens.
Semelhante às deusas ela foi moldada em suas feições recebendo ainda todos os
dons divinos. E foi Hermes quem lhe pôs no coração a perfídia e os discursos
enganosos, além da curiosidade. Desde então, a mulher é considerada a origem de
todos os tormentos do homem. Tanto na tradição Grega quanto na Judaico-Cristã
há uma tentativa de transgressão dos limites humanos e é a entidade feminina
quem impulsiona o homem para tal ação. Na narrativa dos Hebreus a tomada de
consciência era oferecida ao homem por Eva. No mito Grego, houve primeiro uma
simulação frustada pela brincadeira de Prometeu ao tentar testar o poder
e a clarividência dos Deuses. Depois o próprio Prometeu traz o fogo como
presente mas os homens embevecido com a nova condição, se julgam iguais aos
deuses e provocam uma situação de serem punidos novamente. Aí chega Pandora que
ao abrir a caixa derrama sobre a terra todas as desgraças. E a conseqüência é a
perda do paraíso. Mas também se não fossemos expulsos, não cresceríamos. Ainda
hoje, a visão que se tem da mulher costuma ser permeada da influência desses
dois mitos. Há quem a veja como uma bênção de Deus e daria tudo para ter a sua
companhia. Há, por outro lado, quem pense diferente.
